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Pandemia afeta jovens da região que estudam na Argentina
10/07/2020 17:55:37No Brasil: Vitor, de Volta Redonda (à esquerda), havia acabado de alugar apartamento em Buenos Aires, onde estuda medicina
A pandemia de Covid-19 gerou uma onda de incertezas para milhares de brasileiros, muitos deles do Sul Fluminense, que trocaram o país pela Argentina em busca de um diploma de medicina. Com as aulas presenciais suspensas desde março, os que podem estão retornando para o Brasil, enquanto aguardam a volta da normalidade – sem nenhuma previsão neste momento. Outros, principalmente aqueles que tiveram suas famílias no Brasil afetadas pela crise gerada pela doença, temem até ter que desistir do sonho de obter o diploma por falta de condições financeiras de se manter no país vizinho.
Não há dados precisos do número de brasileiros oriundos de cidades do Sul do estado do Rio que estudam na Argentina. Segundo o jornal La Nación, com base em informações do Ministério da Educação da Argentina, o Brasil lidera o ranking de estudantes estrangeiros que estudam medicina nas universidades locais. Em 2018, eram 6.721 brasileiros por lá em busca de um diploma de médico. A presença de estudantes brasileiros passou a ser cada vez mais frequente em cidades como Buenos Aires, La Plata e Rosario – onde estão algumas das principais universidades públicas da Argentina.
Vitor Baêta tem 22 anos e é de Volta Redonda. Ele estuda na Argentina desde 2017, onde cursa medicina na Universidade de Buenos Aires (UBA). A pandemia já havia se alastrado pela América do Sul quando ele voltou para Buenos Aires, no dia 20 de março, temendo que, depois disso, não fosse conseguir entrar no país. “Retornei para lá no último voo antes do fechamento da fronteira”, conta o estudante, que, no início de maio, veio de ônibus para o Brasil: “Vi que não vai ser por agora que as aulas presenciais vão voltar”.
A decisão de Vitor de esperar no Brasil as aulas normalizarem na UBA foi no sentido de economizar. Ele havia acabado de alugar um apartamento na capital argentina e calculou ser melhor pagar a multa para suspender o contrato. Quando voltar, terá que procurar outro imóvel para morar.
“Vou ter que recomeçar do zero”, já sabe o estudante, explicando que a situação é pior para outros: “Principalmente para os que trabalham lá para sustentar os estudos. Tenho um colega que é garçom. O restaurante fechou. Também tenho amigos que ficaram na Argentina porque não têm dinheiro para voltar ao Brasil agora, até porque a maioria está com contrato fechado e tem de pagar aluguel”.
Bárbara Machado Mendes Nogueira, de Barra Mansa, retornou para a casa da família no final do mês passado. Assim como Vitor, ela tem 22 anos, e divide o apartamento com outra brasileira, de Alagoas, em La Plata (a uma hora e meia de trem de Buenos Aires), onde estuda na universidade local. Ela e a colega, que também está no Brasil, decidiram manter o imóvel alugado, mas optaram por esperar em suas cidades a volta à normalidade, como forma de economizar.
O aluguel é o item que mais pesa nas despesas dos brasileiros na Argentina. No caso de Bárbara, o valor de 9 mil pesos (equivalente a R$ 414) é dividido com a outra brasileira.
Aulas online
Embora as universidades tenham adotado aulas online em razão da pandemia, ninguém sabe como vão ficar as avaliações deste ano. “Não tem previsão de volta. A universidade já deixou claro que a educação vai ser o último setor a voltar. Tenho uma amiga que está aprendendo anatomia. Como cursar anatomia com aula online?”, questiona Bárbara. Ela, no entanto, não acredita em um ano perdido, “mas em um ano fraco”.
A opinião de Vitor é a mesma. Ele entende que a universidade está fazendo o máximo, mas muitos alunos já desistiram das aulas online por não conseguirem se adaptar. “Eu praticamente estou tendo aula particular”, compara.
Esforços do país para conter propagação
Apesar dos pesares, Vitor e Bárbara reconhecem: a Argentina está fazendo o possível para não deixar a pandemia sair do controle. “Até para usar o ônibus é preciso mostrar uma permissão para sair de casa. Estranhei muito quando cheguei aqui e vi tantas pessoas nas ruas e sem máscara. Lá, se um policial lhe ver sem máscara, você é multado”, exemplifica Bárbara. “A quarentena lá está mais rígida”, confirma Vitor.
Os dois, daqui, acompanham as notícias de lá torcendo para que o “novo normal”, seja qual for, se estabeleça logo: “Quando penso como estudante, fico mal porque posso estar perdendo um ano. Mas quando vejo como eles estão agindo acho magnífico, pois estão lidando como o melhor que podem fazer”, avalia Bárbara. (Fotos: Arquivo pessoal)
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