O prefeito de Volta Redonda Antonio Francisco Neto pediu desculpas publicamente, nesta quinta-feira (9), à vereador a Gisele Klingler (PSB), com quem teve uma discussão no Palácio 17 de Julho. O bate-boca aconteceu durante uma reunião em seu gabinete, no dia anterior, com os 21 vereadores para discutir a redução dos salários dos médicos do Programa Saúde da Família (PSF), de R$ 20 mil para R$ 15 mil, determinada pelo prefeito diante da queda de arrecadação municipal.

O pedido de desculpas públicas do prefeito foi feito em sua entrevista semanal ao programa Dário de Paula, da Rádio Sintonia do Vale. Neto já havia tentado se desculpar com Gisele ainda no gabinete, após a discussão, motivada por a parlamentar, segundo ele, estar apresentando na reunião dados de outras remunerações por RPA (Recibo de Pagamento a Autônomo), mesma forma de remuneração dos médicos, como se fossem de funcionários da prefeitura – quando se tratam, segundo ele, de prestadores de serviços.

“Quero me desculpar publicamente com todos os vereadores, em especial com a Gisele”, dando a entender que sua reação foi motivado pelo estresse causado pela situação financeira do município. A parlamentar faz oposição ao governo, o que Neto disse ser natural. Acrescentou que não a conhecia pessoalmente e que “façam que é uma pessoa do bem”, lembrando que a candidatura de Gisele, no ano passado, teve apoio de Carlos Roberto Paiva, seu amigo particular e que já foi seu vice-prefeito.

Diante da repercussão do fato, Neto afirmou que uma questão econômica “está virando uma estão política”. Lembrando que foi quem aumentou o salário dos médicos de R$ 12 mil para R$ 20 mil, ele disse que tem que ser precavido para que não haja atrasos de salários e pagamentos a fornecedores, como ocorreu no governo que o antecedeu.

“Mesmo com o salário de R$ 15 mil, o melhor salário do estado vai continuar sendo o meu. Gostaria de manter os R$ 20 mil, reconheço o trabalho dos médicos, mas a minha receita não está sendo suficiente”, frisou. “Entendo a posição de todos. Ninguém quer diminuição de salários”.

Neto, que este ano assumiu seu sexto mandato à frente do Palácio 17 de Julho, afirmou que, em janeiro, a folha de pagamento de Volta Redonda custava R$ 40 milhões e que hoje está em R$ 75 milhões.

Na quarta-feira, após o episódio no gabinete, Gisele esteve na Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) onde registrou um boletim de ocorrência, pois entende que foi vítima de violência política de gênero. “O assunto é sério. Violência política de gênero é crime. O que aconteceu hoje comigo é grave. Ainda estou me recompondo. Tudo isso me machucou muito, mas não vai me intimidar nem me calar”, afirmou a vereadora em um vídeo compartilhado em redes sociais.

No início da noite desta quinta-feira, o PSB divulgou uma carta aberta na qual repudia os fatos ocorridos no Palácio 17 de Julho. (Foto: Divulgação)

Veja a íntegra da publicação

CARTA ABERTA À POPULAÇÃO DE VOLTA REDONDA - RJ

O Partido Socialista Brasileiro de Volta Redonda (PSB-VR) manifesta seu mais veemente repúdio diante dos fatos recentemente ocorridos e amplamente divulgados envolvendo a Vereadora Gisele Klingler, do PSB-VR, e o Prefeito de Volta Redonda Antônio Francisco Neto. Durante reunião realizada na última quarta-feira, 08/10/2025, a parlamentar, no legítimo exercício de seu mandato e de seu dever constitucional de fiscalizar o Poder Executivo, foi alvo de constrangimento, desrespeito e tentativa de silenciamento por parte do chefe do Executivo Municipal.

Tal conduta pode configurar violência política de gênero, uma prática que visa deslegitimar, intimidar ou excluir mulheres do espaço político, ferindo não apenas a dignidade da vereadora, mas também os princípios democráticos e o próprio Partido Socialista Brasileiro. Ressaltamos que esse tipo de violência pode configurar crime, conforme estabelece a Lei nº 14.192/2021, que dispõe sobre normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher, garantindo sua participação plena e segura na vida política.

O PSB-VR reafirma seu compromisso inegociável com os valores da justiça, do respeito e da dignidade. Repudiamos veementemente qualquer ação ou discurso que viole esses princípios e destacamos a importância de manter um ambiente político pautado pela ética, pelo respeito mútuo e pela equidade de gênero.

Reiteramos que nenhuma autoridade pública está acima do respeito e do diálogo democrático. A tentativa de silenciar uma vereadora, representante legítima do povo e símbolo da representatividade feminina na política, fere gravemente a autonomia do Poder Legislativo e os pilares da democracia, o que é inadmissível.

Para além do ocorrido, ficou evidente que a reação do prefeito se deu após a revelação de fatos administrativos de legalidade questionável, como a contratação continuada de serviços de pessoas jurídicas com pagamento via RPA (Recibo de Pagamento a Autônomo), em valores superiores a R$ 30.000,00, prática que demanda apuração rigorosa e transparência por parte da administração pública.

O PSB-VR acompanhará atentamente o desenrolar dos fatos e os desdobramentos políticos, administrativos e jurídicos do caso, com o firme propósito de garantir que não haja qualquer tipo de interferência na execução do trabalho parlamentar da vereadora Gisele Klingler. A atuação livre, respeitosa e independente dos representantes eleitos é condição essencial para o fortalecimento da democracia.

Somos integralmente solidários à vereadora Gisele Klingler e reafirmamos nosso compromisso com a defesa das mulheres na política, com o respeito institucional e com uma gestão pública baseada no diálogo, na transparência e na igualdade de gênero.

Volta Redonda, 09 de outubro de 2025.

Fernando Parente

Presidente do PSB - VR