Economia
Com oposição a sindicato ganhando força, metalúrgicos votam proposta da CSN
Empresa lembra que, por lei, só pode negociar com entidade sindical
07/04/2022 19:38:05Os trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda deverão votar em escrutínio secreto, nesta sexta-feira (8) – véspera do aniversário de 81 anos da empresa –, a primeira proposta da direção para a renovação do acordo coletivo de trabalho. A votação acontecerá de 6 às 18 horas, na Praça Juarez Antunes, na Vila Santa Cecília. O principal item é o reajuste de 8,1% para quem ganha até R$ 3 mil e de 5% para quem ganha acima deste valor.
Historicamente, desde que este tipo de votação foi adotado, a primeira proposta da empresa costuma ser recusada. A campanha salarial deste ano, no entanto, apresenta algumas diferenças e gera certas expectativas.
A primeira é que os metalúrgicos da Usina Presidente Vargas amargam dois anos sem reajuste salarial, por conta da pandemia. A segunda é que a empresa anunciou recentemente uma distribuição de dividendos recordes para os acionistas do grupo CSN.
E, a terceira, é a oposição ao Sindicatos dos Metalúrgicos, que, sob a presidência de Silvio Campos, enfrenta tamanha falta de credibilidade e de prestígio junto à categoria que animou um grupo de oposição a iniciar, justamente nesta semana, um movimento paralelo de reivindicação que vem causando paralisações em setores da usina – levando a companhia a emitir uma nota (leia a íntegra no final deste texto), na noite desta quinta-feira (7).
A falta de credibilidade do sindicato é, de certa forma, ratificada pelo seu próprio presidente. Num material enviado à imprensa pela sua assessoria, ele condena o movimento paralelo: “O Sindicato sempre esteve aqui e em hora nenhuma fomos chamados pelos trabalhadores ou nos procuraram para uma reunião para falar sobre a paralisação”. Sim, o presidente do sindicato revela que foi solenemente ignorado por um grupo de, segundo ele mesmo, 800 trabalhadores.
Em seguida, ele diz entender que o movimento se faz necessário frente ao que os trabalhadores estão passando, com dois anos de reajuste zero”. “É justo e concordo que tem que parar a empresa mesmo, mas isso tem que ser feito de forma responsável e legal, para que não traga prejuízos para esses funcionários”.
Outro recibo – Silvio Campos, no mesmo material enviado à imprensa, passa outro recibo sobre o impacto que o movimento paralelo está causando, afirmando que a proposta enviada na última terça-feira (5) ao sindicato, “mesmo sem o início oficial das negociações”, foi motivada pelo movimento de oposição no chamado chão de fábrica: “Já tínhamos a reunião marcada com Benjamim [Steinbruch, presidente da CSN] e fomos pegos de surpresa pela paralisação, o que motivou a apresentação dessa proposta”, disse Campos.
Apoios – O movimento paralelo está sendo liderado por Edimar Miguel Pereira, o mesmo que foi à Justiça contestar a eleição de 2018 no Sindicato dos Metalúrgicos, sob a alegação de que o pleito se deu com base em um estatuto revogado na gestão do atual vice-presidente, Renato Soares. Pelo novo estatuto, aprovado em assembleia comandada por Renato, mas que o sindicato alega até hoje não ter registrado em cartório, um mesmo presidente não pode cumprir três mandatos consecutivos nem conduzir o processo eleitoral na entidade.
Edimar – que rachou com outro grupo de oposição à atual direção do sindicato – vem recebendo apoios de outros sindicatos, como o dos Petroleiros do Rio de Janeiro. Foi o carro de som do sindicato dos trabalhadores da Petrobras que ele usou para se dirigir aos empregados da CSN, na Passagem Superior – a principal entrada da fábrica – e na Praça Juarez Antunes.
“Infelizmente, estão usando os trabalhadores de massa de manobra em função da eleição”, diz Silvio Campos. “Eles sabem que para uma greve há um rito e que, caso não seja cumprido, pode prejudicar os trabalhadores e não vão dar respaldo quando isso acontecer”.
CSN – Também na noite desta quinta-feira, a CSN – que até então não havia se pronunciado sobre o movimento na Usina Presidente Vargas -, emitiu nota lembrando que a data-base da categoria é 1º de maio. Diz ainda que, pela legislação, só pode negociar com o Sindicato dos Metalúrgicos e que, por isso, não reconhece “a legitimidade de movimentos paralelos que ocorrem durante a negociação sindical”.
Veja a íntegra da nota:
“A CSN comunica que segue aberta a negociação com os seus empregados, por meio de seus representantes legais, para reuniões que envolvam os interesses dos trabalhadores.
Neste sentido, recebeu, no dia 5 de abril, a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, na sede da empresa, e apresentou uma proposta para o acordo coletivo 2022/2023 e abono.
A empresa reforça que as negociações estão ocorrendo no prazo do acordo coletivo, cuja data base é 1º de maio.
Neste momento, resta à empresa aguardar a apreciação da proposta em assembleia, que foi convocada pelo Sindicato para o dia 8 de abril.
Cabe reforçar que, de acordo com a legislação, a empresa só pode negociar o acordo coletivo com o sindicato legalmente constituído para representar os trabalhadores. Desta forma, a CSN não reconhece a legitimidade de movimentos paralelos que ocorrem durante a negociação sindical. Eventuais disputas sindicais e movimentos pontuais não podem interferir no processo natural de negociação. É importante permitir à totalidade dos empregados, democraticamente, exercer o seu direito de votação.
Seguimos abertos à negociação e contamos com a colaboração de todos". (Foto: Divulgação)
A PROPOSTA DA CSN