Polícia
Policiais suspeitos de formar quadrilha para sequestro estão presos. Vítima foi torturada antes de ser levada a cativeiro
05/06/2012 13:32:42Atualizada às 17h42min - Estão presos os quatro cabos da Polícia Militar – três lotados em batalhões da região – suspeitos de formação de quadrilha no sequestro de um comerciante de 31 anos (e não 22, como a polícia informou inicialmente), na noite da segunda-feira, em Juiz de Fora (MG). A vítima, Rômulo Dias Marques, dono de uma revendedora de motocicletas na cidade mineira, foi trazida para Volta Redonda, mas conseguiu escapar do cativeiro, na casa número 19 da Rua 663, no bairro Siderópolis.
Os policiais presos foram identificados até agora como Jefferson e Brandão, lotados no 28º BPM (Volta Redonda), Itamar, do 37º (Resende) e Luciano Miguel, do 41º BPM (Ceasa-RJ). O dono da casa que servia de cativeiro e de onde a vítima conseguiu escapar na madrugada desta terça-feira, foi identificado apenas como Roni, que também está preso em flagrante.
COMO FOI – Em depoimento na delegacia de polícia, Rômulo disse que foi rendido por cinco homens, por volta das 18h30min da segunbda-feira, quando chegava em casa, no bairro Barbosa Lages, na Zona Norte de Juiz de Fora. Ele disse que a quadrilha usava três carros, um Astra branco, um Astra vinho (que estava com um dos policiais presos) e um Corsa branco.
De acordo com a vítima, os bandidos pensavam que estavam sequestrando um empresário identificado por ele apenas como Rafael, que é dono de uma distribuidora de bebidas e de campos de futebol society na cidade mineira. “O alvo da quadrilha era o Rafael, que é cliente da loja do Rômulo. Eles têm características físicas parecidas”, disse no final da tarde desta terça-feira o advogado de Rômulo, Manoel Roberto Rosa.
Ao chegarem com o comerciante a Volta Redonda, os sequestradores o levaram para o alto de um morro, que ele não sabe identificar onde fica, já que não conhece a cidade. No local, Rômulo foi torturado para confessar que era Rafael e para dar mais informações sobre sua família e dinheiro.
Na delegacia, a vítima exibiu as marcas das agressões nas costas, provocadas por pedaços de borracha usada em frisos de automóveis e arbustos arrancados do chão pelos bandidos. Manoel Rosa disse que os sequestradores logo fizeram contato com a família, exigindo inicialmente R$ 600 mil para libertar a vítima. Depois, não acreditando que Rômulo não fosse Rafael, baixaram o valor para R$ 400 mil, ameaçando matar a vítima.
- Foi preciso ligar para o Rafael de madrugada para que ele fosse à casa de Rômulo e falasse com eles, pois os sequestradores não acreditavam ter pegado a pessoa errada – acrescentou o advogado. As negociações com a quadrilha estavam sendo feitas por um tenente da Polícia Militar de Minas Gerais.
De acordo com o advogado, Rômulo foi levado para a casa que funcionaria como cativeiro por volta das 3h30min. Segundo ele, todos os cinco suspeitos presos estiveram na casa até o dia amanhecer, quando então todos foram embora, ficando apenas um sexto envolvido – que ainda não está identificado e continua sendo procurado. Foi neste período que, com as mãos amarradas e com uma corda prendendo seu corpo que Rômulo disse ter conseguido se soltar, pulando dois muros para fugir, até ser encontrado por policiais militares nas proximidades da Igreja São Paulo Apóstolo, no bairro Sessenta.
AS PRISÕES – Moradores próximos da Igreja ligaram para a Polícia Militar ao verem Rômulo na rua. “Acharam que ele fosse um mendigo ou drogado, mas, como estava com as mãos amarradas, chamaram a polícia”, disse o advogado da vítima. Diante da história contada por Rafael, os policiais acionaram a supervisão do 28º Batalhão de Polícia Militar. Os indícios de participação de policiais no crime começaram a ficar claros quando a vítima contou que, debaixo da cama onde fora mantida, havia coturnos (botas) iguais aos usados por policiais militares. O comandante do 28º Batalhão da PM, coronel Igor Magalhães, determinou então que todos os policiais do Serviço Reservado, inclusive os que estavam de folga, fossem mobilizados para o caso.
Os suspeitos começaram a ser presos porque, na casa que serviu de cativeiro, havia um telefone celular com a foto do PM Jefferson. “Ele alega que não esteve na casa, mas como, se o telefone dele foi encontrado lá?”, questionou o delegado Antônio Furtado. A partir daí, todos os envolvidos foram presos pelos agentes da P-2. O último a ser encontrado foi o PM lotado no 41º BPM, que será trazido a Volta Redonda para prestar depoimento. Todos os suspeitos foram reconhecidos por fotos e presencialmente pela vítima, à exceção do cabo Luciano Miguel, que ainda será submetido ao reconhecimento.
Segundo o coronel Igor, todos serão transferidos para o Batalhão de Execuções Penais (BEP), da Polícia Militar, em Benfica, no Rio, e serão expulsos da corporação caso se comprovem as acusações.
- A PM deu uma pronta resposta para pegar estes policiais. O meu sentimento é de revolta, pois, se ficar comprovado o crime, eles não honram a farda que vestem. Pessoas assim, para a gente não serve – disse o comandante do 28º BPM.
OS CRIMES – O delegado Antônio Furtado disse que os envolvidos estão indiciados em crime de extorsão mediante sequestro, mas estuda enquadrá-los também em tortura. Só para a primeira acusação, a pena prevista é de 15 anos de prisão. Segundo ele, um irmão de Roni está sendo investigado pois seria amigo dos policiais e foi quem teria pedido a casa para servir de cativeiro.
Segundo o delegado, todos os suspeitos negam participação, “mas a vítima tem uma excelente memória”, afirmou, em relação aos detalhes fornecidos por Rômulo. O delegado informou que os suspeitos não serão apresentados à imprensa. Ainda segundo ele, Rômulo vai ser submetido a exame de corpo de delito.
MÁ LEMBRANÇA – Rômulo não quis dar entrevista. Perguntado pelo FOCO REGIONAL, ele se limitou a dizer que não conhecia Volta Redonda. “Nunca tinha vindo à cidade”, declarou. O rapaz, no entanto, permitiu que suas costas fossem fotografadas. Depois de ser atendido na delegacia de polícia, ainda pela manhã, ele foi levado ao Hospital São João Batista para ser examinado assim que foi comprovada a veracidade de suas informações.
Até por volta das 14 horas, uma equipe da Polícia Civil de Juiz de Fora, que chegou a Volta Redonda por volta das 11 horas, permaneceu na delegacia acompanhando o desenrolar do caso. Os policiais retornaram para a cidade mineira informando que o caso seria apurado pela polícia fluminense.