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por: Fernando Pedrosa
Um olhar nas abstenções
04/10/2016 17:54
A mídia, de uma maneira geral, está fazendo estardalhaço em relação ao índice de abstenções nas eleições municipais deste ano. Algo tratado como uma anormalidade, quando, na verdade, não houve um salto assim tão significativo se comparados os números deste ano a 2012, eleição anterior nos municípios.
Vejamos: este ano, em Volta Redonda, as abstenções somaram, 19%, contra 15,43% de quatro anos atrás. Em Barra Mansa, o índice de não comparecimento ficou na mesma faixa, precisamente 19,51%, contra 14,55% na eleição anterior de prefeito e vereadores. Houve aumento, mas não a explosão de abstenções que vem sendo alardeada. Em escala nacional, neste ano a soma de eleitores que não foram às urnas corresponde a 17,5% do total apto a votar, quando, em 2012, ficou em 16,41%. Aumento de 1% na média nacional.
A abstenção está sendo tratada como se fosse, apenas, rejeição à política, ao exercício da cidadania por descrença nos personagens e nas instituições de maneira geral. Não é bem por aí. Evidentemente, há uma parcela do eleitorado extremamente descrente – e nem poderia ser diferente, frente a um noticiário completamente negativo para a classe política, sobretudo nos últimos quatro anos. Surpresa haveria se, neste ambiente, as pessoas se mostrassem mais dispostas mais a votar.
Além disso, está sendo desconsiderado, por exemplo, que o voto não é obrigatório para maiores de 70 anos e para adolescentes entre 16 e 18, o que, por si só, já assegura uma fatia nada desprezível de eleitores desobrigados de comparecerem às urnas.
Os votos nulos e brancos não deveriam estar sendo analisados no mesmo pacote. Os resultados são peculiares a cada cidade. Tomemos como exemplo Barra Mansa, onde a soma dos nulos no último domingo chegou a 12%, praticamente dobrando em relação aos 6,20% da eleição de 2012. Mas não se deve desconsiderar que a eleição aconteceu na véspera do aniversário da cidade. Quantos preferiram desfrutar de um fim de semana prolongado em vez de ir às urnas?
Ainda em Barra Mansa, houve aumento no percentual dos que anularam o voto: de 3,68% para 5,59%. Ou seja: este público foi votar, mas não encontrou, no leque de candidatos, nenhum que considerasse merecedor do seu voto. E isso, convenhamos, pode ter pouca relação com descrédito na classe política.
Em Volta Redonda, enquanto 2,67% dos eleitores votaram em branco em 2012, este ano o índice ficou em 3,57% - aumento de menos de 1%. Os nulos subiram de 4,94% para 8,38% - bem abaixo dos 12% que anularam o voto na cidade vizinha. Sinal de que, em Volta Redonda, as alternativas para o eleitor no primeiro turno desagradaram menos que em Barra Mansa.
No país onde o ato é obrigatório, atribuir somente ao desencanto com a política a decisão de não votar pode estar sendo um equívoco. Até porque, com a ressalva de que são eleições diferentes, em 2014 o percentual de abstenções no país foi a 19,4%. Portanto, acima do que se viu agora.
Fernando Pedrosa é editor do FOCO REGIONAL