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por: Ingridy Ribeiro
Se não pode contar como fez, não faça
21/04/2017 18:21
Em 2012, durante uma maratona na Espanha, Fernandez Anaya surpreendeu o público. Ele era o segundo colocado da prova quando viu o queniano Abel Mutai, que liderava com folga, diminuir o ritmo a poucos metros da vencer, por pensar erroneamente que já havia ultrapassado a linha de chegada. E o que fez o espanhol? Ao invés de aproveitar o erro do adversário para vencer a corrida, o alertou e ainda o empurrou até a vitória.
Logo após o episódio, um jornalista se aproximou de Fernandez e perguntou: "Por que você fez o que fez?". E o espanhol respondeu: "Fiz o que?". Fernandez tinha valores de conduta tão fortes e claros, que tal questionamento não fazia sentido e, portanto, não entendeu a pergunta que lhe foi feita. O jornalista insistiu em questionar por qual razão ele tinha feito aquilo e, o jovem espanhol repetiu: "Isso o quê?". Para Fernandez não havia outra coisa a se fazer senão aquilo que ele havia feito. Simples assim.
O jornalista teimou: "Você deixou ele ganhar!". "Eu não deixei ele ganhar, ele ia ganhar!", respondeu Fernandez. "Mas ele estava distraído", repisou o jornalista. Fernandes foi fatal: "Se eu deixasse ele ganhar, qual seria o mérito da minha vitória? O que é que, quieto e sem câmeras, eu ia pensar de mim mesmo? Se eu subisse no pódio, no lugar de número 1, qual seria a honra da minha vitória? Qual seria a dignidade do meu sucesso? Se eu fizesse isso, o que eu diria para minha mãe?"
Esse texto foi inspirado em uma entrevista que assisti do Mario Sergio Cortella. Ele acredita que a figura da nossa mãe, é o último reduto que não queremos envergonhar e cita Immanuel Kant, grande filósofo alemão do século 18, em uma frase estupenda: "Tudo o que não puder contar como fez, não faça".
Afinal, se há razões para não contar, essas são as razões para não fazer. E isso não diz respeito a sigilo e privacidade, a mensagem é: tudo o que não puder contar como fez, porque se alguém souber você ficará com vergonha de ter feito, então nem faça.
Cortella ainda cita o apóstolo Paulo dos cristãos: "tudo me é lícito, mas nem tudo me convém". (Coríntios 6:12).
Ou seja, você pode fazer qualquer coisa, porque você é livre. Mas você não deve fazer qualquer coisa. E o que você não deve fazer? Aquilo que suja, que macha sua trajetória, que agride a sua comunidade, aquilo que envergonha a si mesmo e as pessoas que você ama e em última análise, o que entristece sua mãe.
Que possamos ir para a cama - quietos e sem câmeras - todas as noites de bem e não envergonhados com a gente mesmo!
Ingridy Ribeiro é Coach de Vida & Carreira. Escreve às sextas-feiras