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por: Fernando Pedrosa
Radicais e tolos
18/03/2016 11:20
O agravamento da crise política no país, a partir do resultado das eleições presidenciais de 2014, vem ganhando nos últimos dias contornos extremamente preocupantes. O clima de Fla-Flu, ou melhor, de Flamengo x Vasco – de rivalidade bem mais acentuada – que está tomando as ruas, já desencadeou atos de violência de ambas as partes que nenhum bem trará ao país, independente do destino do governo de Dilma Rousseff.
Rivalidade, ressalte-se, lamentavelmente instigada por colunistas de jornais, revistas e blogs, contrários ou simpáticos ao governo. Incentiva-se o grito ao invés do debate civilizado. Contam para isso com a ignorância política dos dois lados, replicando suas irresponsabilidades em redes sociais. Aloprados contra e a favor do governo se mostram dispostos a tudo, inclusive a agredir e serem agredidos.
Neste momento de acirramento da atuação dos tolos radicais, talvez seja oportuno alertar para a insanidade de trocar o debate político pela violência: amanhã poderão assistir aqueles pelos quais hoje se estapeiam trocando acusações por elogios, pois, na política brasileira, é o que se vê com frequência. Basta apenas terem a mesma necessidade para adversários de um momento se tornarem amigos fraternos em outro.
Exemplos não faltam. Em 1989, na primeira eleição livre do país pós-ditadura, vimos Lula e Fernando Collor duelando na TV como se fossem inimigos mortais. Collor ganhou, foi “impichado” e ficou inelegível. Voltou à cena política para, no Senado, fazer parte da base de sustentação de Lula.
E o que dizer do Lulécio, aquele fenômeno de 2006 em Minas Gerais? Na época – Aécio Neves concorria ao governo mineiro e Lula à reeleição de presidente – já havia explodido o mensalão. Aécio, um ano antes da eleição, foi um dos primeiros a sair em defesa de Lula: “O presidente tem uma história que merece o nosso respeito. O presidente Lula não é o presidente Collor”. Em 2009, Dilma se referiu a Aécio como “um dos melhores governadores do país”.
Aliás, para ficar só no exemplo dos dois partidos que hoje polarizam a cena política, PT e PSDB esquecem suas diferenças e se unem por conveniência. Em 2004, ajudaram a eleger nada menos que 194 prefeitos em todo o país. Em 2012 estiveram afinados na disputa por 54 prefeituras somente no estado de São Paulo. É assim que funciona, seja lá como cada um enxergue a prática.
Vale à pena sair no tapa? Vale à pena radicalizar com amigos, com pessoas da própria família, criando inimizades, como já está acontecendo? Penso que não.
O debate civilizado é essencial. A participação popular neste momento, manifestando seu ponto de vista, pró ou contra o governo, poderia contribuir para o amadurecimento político da nossa sociedade. Mas partir para confrontos físicos ou mesmo verbais, com a marca da intolerância, é uma tolice. Porque, se lhes for interessante no futuro, Lula e Aécio não se furtarão a posar novamente para uma foto como esta lá de cima. E quem hoje ofende e é ofendido, talvez não se sinta tão à vontade para restabelecer com a mesma naturalidade uma amizade rompida por posições políticas divergentes.
Fernando Pedrosa é editor do FOCO REGIONAL
E-mail: pedrosa@focoregional.com.br