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Vida Digital
por: Frederico Guimarães
Os mortos vivem conectados
30/10/2015 16:01
No dia a dia, na vida online ou fora dela, estamos
sujeitos a acontecimentos e situações inesperadas que nos proporcionam
experiências, positivas e negativas, que fogem da nossa rotina. Dentre as mais
variadas situações, a perda de um ente querido é, sem dúvida, a que mais nos
afeta emocionalmente. Lidar com tal situação não é fácil. Considerando que,
cerca de 120 milhões de brasileiros estão conectados e grande parte possui
perfil em redes sociais, podemos dizer também que, senão todos, mas a grande
maioria, conhece alguém que já faleceu e possuía um perfil no Facebook,
Twitter, Linkedin, Google +, Pinterest,
entre vários outros. Estima-se que mais de 10 milhões de contas nas redes
sociais são de pessoas que já não estão mais entre nós. Naturalmente, este número aumenta cada vez
mais e mais. E você, já parou para pensar como lidar com isso?
Na segunda-feira, 2 de novembro, é o Dia de Finados, que foi criado pelo homem para honrar e lembrar as pessoas que já faleceram. De acordo com a tradição brasileira, as pessoas vão aos cemitérios levar flores, acender velas e rezar pelos entes queridos. E nas mídias sociais presenciamos o sentimento exposto de várias formas.
Já vivenciei amigos que perderam suas vidas de forma trágica e receberam em seu mural uma enxurrada de informações sobre o seu acidente e conversas sobre o ocorrido. Vi também a pessoa ser “morta” por seus próprios amigos, sendo que, na verdade, mesmo em situação grave de saúde, ele ainda estava lutando pela vida. Em outro caso. a pessoa que já faleceu faria aniversário em uma terça-feira, 25 de julho, e como seu perfil ainda estava ativo, o Facebook informou aos seus amigos sobre esta data. Quando vi o perfil da pessoa, várias mensagens de saudades, lembranças e também feliz aniversário. Sim, havia pessoas desejando feliz aniversário e muitos anos de vida – só se for a vida após a morte. Em outro fato curioso que li na internet, o namorado da menina possuía a senha de seu perfil e ao invés de excluir ou passar para a família, ele ficava respondendo como se fosse ela. Detalhe: isso só aconteceu alguns meses depois que a menina havia falecido. Imagine você deixar uma mensagem dizendo que nunca esquecerá a pessoa, que sentirá muita saudade e alguns meses depois essa pessoas responde: “Muito obrigado” e “também estou com saudades!” Me vem à cabeça uma cena bizarra na qual a falecida está enterrada com um smartphone na mão respondendo às pessoas aqui na Terra. Um pouco estranho isso, não acham?
Sobre como lidamos com estas e outros situações vai de cada um. As empresas de redes sociais também tem a sua forma de lidar com isso. Várias delas garantem que as informações dos seus usuários continuam a ser deles mesmo após a sua morte. No entanto, o Pinterest é a única rede que não apresenta nenhuma exceção quanto à regra: todas as demais podem disponibilizar informações a familiares e amigos autorizados previamente pelo usuário falecido ou pela Justiça, em casos específicos.
Já o tempo de desativação do perfil de quem morreu varia de site para site. O Facebook pode desativar seu perfil assim que a empresa for avisada e qualquer documento que comprove o óbito seja encaminhado por um parente ou pessoa solicitante.
Com o número crescente de usuários mortos, algumas empresas criaram um serviço especial: além de solicitar a exclusão da conta, os parentes podem também transformar o perfil do falecido em um memorial. Com essa configuração, a página continua exatamente como a pessoa deixou, sem alterações.
Dados os diversos fatos e sabendo que as pessoas valorizam a vida online tanto quanto – ou mais – que a vida off-line, podemos esperar de tudo. Hoje há empresas que criaram redes sociais para os mortos, onde elas atuam automaticamente após uma série de perguntas e avaliação de seus hábitos e costumes. Não duvido também que algumas pessoas deixem em seu testamento senha de suas mídias sociais e como proceder em caso de sua morte. Como disse, nos tempo de hoje, tudo é possível. E você, já parou para pensar como gostaria que fosse sua vida online após a sua morte?
Frederico Guimarães é especialista em marketing digital escreve sempre às sextas-feiras.
E-mail: frederico@souhashtag.com.br