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por: Fernando Pedrosa

Demissões na CSN? Tô nem aí

09/01/2016 14:19

- Foi um prazer trabalhar com você. Acabo de ser demitido – disse um metalúrgico da CSN a um agora ex-colega de trabalho, no início da noite da sexta-feira.

- E como é que você está? - indagou o amigo.

- Não tô nem aí...Pelo menos agora terei algum dinheiro no bolso – respondeu o já desempregado.

O diálogo, relatado pelo amigo de um dos cerca de 300 operários demitidos da Usina Presidente Vargas, chama a atenção pela reação “tô nem aí” de uma nova geração de assalariados, na faixa entre 20 e 30 anos, para quem o fantasma do desemprego não assombra na mesma proporção que assustava aqueles que tinham a mesma faixa etária até a década de 1990.

Formam uma geração bem diferente das anteriores. Muitos ainda são solteiros, não têm filhos, vivem com os pais, provavelmente agora bem mais preocupados que eles com as demissões na CSN, ainda mais se forem aposentados da maior empresa da cidade, onde entraram ainda jovens, logo casaram, tiveram filhos e precisaram suar a camisa, dentro e fora da Usina Presidente Vargas, para sustentar a família. Perder o emprego, ainda mais na CSN!, para as gerações passadas, era algo próximo do fim do mundo. “Tô nem aí”, nem pensar.

Na última quarta-feira, depois de uma infrutífera reunião com representantes da CSN, o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, presidente Silvio Campos à frente, foi para a Passagem Superior. Enquanto ele e diretores discursavam no caminhão de som, um boletim era distribuído aos metalúrgicos que deixavam a usina. Mais um sintoma do “tô nem aí”: enquanto trabalhadores com mais de 50 anos pegavam um exemplar, a maior parte dos mais jovens passava batida. “Antigamente, o risco de demissão em massa provocaria uma concentração junto ao caminho de som”, observou um sindicalista.

Há muitos fatores capazes de explicar este comportamento. Hoje, por exemplo, existe seguro-desemprego – e não esta se criticando o benefício, pois ele proporciona ao demitido um tempo para tentar se reencaixar no mercado do trabalho.

A questão principal, no entanto, é outra: já foi o tempo que ter um emprego na CSN era o sonho de dez entre dez jovens moradores de Volta Redonda e de outras cidades da região. Tendo referências na própria família de um emprego promissor, traçavam um plano de vida a ser sustentado na siderúrgica.

Vai ficando cada vez mais distante o tempo em que um rapaz de 20 anos se dispunha a enfrentar uma atividade altamente insalubre, onde a remuneração salarial e os benefícios compensavam o sacrifício. A CSN, asseguram sindicalistas, paga atualmente o pior salário do setor siderúrgico do Brasil, remunera menos que as montadoras de Resende e Porto Real. O leitor, provavelmente, deve conhecer pelo menos um jovem com menos de 30 anos que não pestanejou em deixar a CSN por outra atividade.

Outro sinal dos tempos: infinitamente menos politizada do que gerações passadas, esta força de trabalho não está nem aí para a relação com o capital (o patrão). “A maioria dos trabalhadores da CSN sequer é sindicalizada”, disse à coluna esta semana um diretor do Sindicato dos Metalúrgicos.

Este novo perfil do trabalhador da principal empresa de Volta Redonda ajuda a explicar a sinuca de bico em que passou a viver o sindicato da categoria. Sob pressão, qualquer sindicato se sustenta em sua base, ou seja, naqueles que representa. Sem esta sustentação, resta apenas enfrentar sozinho a pressão. Sem direito a um “tô nem aí”.

Em tempo: e o Ciro Gomes, hein! Como num velho e extinto programa humorístico, veio a Volta Redonda, discursou como elo CSN-sociedade e se escafedeu. Mas fez o seu comercial de pré-candidato à Presidência da República.

Fernando Pedrosa é editor do FOCO REGIONAL

E-mail: pedrosa@focoregional.com.br


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