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por: Fernando Pedrosa

Aplausos para o Edward

02/11/2015 14:30

Vim para Barra Mansa no segundo semestre de 1979. Naquela época, havia uma rivalidade estúpida e injustificável entre as equipes das rádios Sul Fluminense, para onde me transferi, e Siderúrgica Nacional, emissora pertencente à Companhia Siderúrgica Nacional. O contato era limitado ao profissional, quando muito. Eu fiquei um pouco assustado com aquilo, vendo que apenas um ou outro tinha alguma afeição pelo integrante da “equipe adversária”.

Só vim a conhecer Edward de Carlos de verdade depois que a Rádio Siderúrgica fechou, em dezembro de 1980. Abro um parêntesis: Certa vez, Roberto Procópio Lima Netto, que preparou a CSN para a privatização, me disse que fechar a Rádio Siderúrgica foi “a maior burrice” cometida pela estatal do aço. Repetiu o que Edward me havia dito dez anos antes.

Ainda na Sul Fluminense, antes de me transferir para a Rádio Nacional, do grupo Radiobras, que sucedeu a Siderúrgica, tive a oportunidade não de trabalhar, mas de desfrutar da companhia de Edward. E descobri uma pessoa extremamente diferente da imagem que, por aquela rivalidade que eu não entendia, havia construído.

Antes, o que parecia para mim, um cara pedante, era um tímido com receio de se abrir. O homem que parecia não ser capaz de sorrir, ria de tudo.  O que parecia antes arrogância, se mostrou uma pessoa extremamente afável.

Certa vez, fomos transmitir um jogo entre Madureira e Volta Redonda, em Conselheiro Galvão. Estávamos ele, Ronald Jarbas (também já falecido) e eu procurando um restaurante para almoçar. Os que encontrávamos não nos pareciam, digamos, higiênicos o suficiente.  Até que passamos por uma mulher que tinha jeito de moradora do bairro.

Perguntei se havia um bom restaurante e ela respondeu que em Madureira só havia “restaurantes luxentos”. Não sei por que, mas o Edward teve uma crise de riso com aquela resposta, que prosseguiu no restante do dia. Luxentos? Não era o que tínhamos constatado até então.  Para resumir a história: fomos, os três, para a transmissão esportiva de estômago vazio.

Em 1982, me transferi para a Rádio Nacional, do grupo Radiobras, que sucedeu a Rádio Siderúrgica. Edward permaneceu na Sul Fluminense por algum tempo. Nos falávamos sempre. Depois, ele abandonou o rádio e passou a se dedicar a uma choperia na Vila Santa Cecília.

Vou ser sincero: o estilo de narração do Edward não era o meu preferido. E, com aquela sinceridade petulante da juventude, disse isso a ele certa vez. Com classe, ele respondeu: “Meu caro, nem Jesus Cristo conseguiu agradar todo mundo”.

Porém, como profissional, era dedicado, sempre disposto a fazer um bom trabalho. E, como ser humano, capaz de conversar sobre tudo. Edward me cativou. Com 15 anos a mais do que eu, me transmitiu muita coisa positiva.  Estive algumas vezes em seu estabelecimento. E ele demonstrava uma grande alegria ao meu ver. Foram poucas as vezes, hoje me arrependo de não ter ido mais.

A partir do momento em que ele deixou o rádio, nossos contatos foram diminuindo. A última vez em que nos falamos foi há cerca de dois meses, quando ele ligou para o Programa Dário de Paula pedindo para que levássemos ao conhecimento do prefeito Antônio Francisco Neto um problema em seu bairro, o Eucaliptal.

- Bairro luxento é assim mesmo, qualquer coisinha incomoda – brinquei. E ele começou a rir como naquele distante dia em Madureira.

Hoje cedo, recebi a notícia da morte do Edward. E o Dia de Finados ganhou um ar mais triste do que habitualmente já carrega. Os mais jovens não o ouviram como narrador. Uma pena. Certamente, ele teria agradado muitos. Por outro lado, guardo a lembrança de alguém que desmistifica esta história de que a primeira impressão é a que fica. De Edward, ficaram as melhores impressões, de um grande amigo que o rádio me proporcionou. Que Deus o receba de braços abertos.


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