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por: Fernando Pedrosa
Apagando a história
09/11/2020 19:12
Há 32 anos, no dia 9 de novembro de 1988, Volta Redonda viveu um dos dias mais dramáticos de sua história. Naquele dia, durante uma greve na CSN, três metalúrgicos morreram defendendo reivindicações da categoria.
William Fernandes Leite (22 anos), Valmir Freitas Monteiro (27) e Carlos Augusto Barroso (19) perderam a vida num confronto de metalúrgicos com soldados do Exército. Dezenas de trabalhadores ficaram feridos. Eles defendiam a reintegração de demitidos da Usina Presidente Vargas por perseguição política (devido à greve de 1987), a redução de oito para seis horas da jornada de trabalho para as atividades ininterruptas e, ainda, um reajuste salarial.
O episódio teve repercussão internacional e por pouco não interrompeu o processo de abertura política posto em prática três anos antes pelo regime militar. William, Valmir e Barroso se tornaram mártires do movimento, liderado pelo então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, Juarez Antunes.
A histórica greve, com seu final traumático, rendeu uma homenagem aos trabalhadores. Projetado por Oscar Niemayer, foi erguido um ano depois o Memorial 9 de Novembro, na praça que mais tarde viria a ser denominada Juarez Antunes.
No dia seguinte à inauguração, por volta das 3 horas da madrugada, o monumento foi quase que totalmente destruído por um atentado à bomba. Chocado com a violência, Niemayer foi contra a restauração. A seu pedido, a obra foi reerguida, mas manteve parte de sua destruição, como forma de demonstrar que arte e democracia são fatores de resistência.
Desprezo
A tragédia de Volta Redonda vem sendo cada vez mais ignorada ano após ano. Até o momento em que esta coluna foi publicada, não se viu uma manifestação sequer de um dos candidatos a prefeito nas eleições do próximo domingo (15).
Mas o que mais se estranha é que não há qualquer menção significativa justamente do Sindicato dos Metalúrgicos. A gestão de Silvio Campos, Renato Soares (quem diria!!) e Edmilson Alvarenga ajuda a enterrar a data. Para o sindicato – cujo boletim informativo se chama justamente 9 de Novembro – o dia de hoje é como se fosse outro qualquer.
Os três ajudam a apagar um episódio da história do sindicato que “dirigem”. Estranho? Sim. Surpreendente? Não. São “sindicalistas” que vão afundando uma história de lutas, a história de um sindicato a cada dia mais sem identificação com a sua categoria. Não é à toa que, independente das mudanças legais que esvaziaram sindicatos de todo o país, o dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, que já foi considerado um dos mais importantes do país, se tornou uma instituição sem prestígio, sem planos (exceto os de sobrevivência pessoal de seus dirigentes), sem rumo. Vem se apequenando na mesma proporção da (falta de) direção que tem. Enquanto isso, a oposição sindical tinha marcado um ato (colocação de flores) para 16 horas no memorial e uma live às 20 horas para falar do 9 de Novembro.
Saudades de conflitos? Não. Preservação de memória, apenas isso. Mas não se pode mesmo esperar muito de onde não sai nada. Com Silvio, o único avanço do Sindicato dos Metalúrgicos é no retrocesso.
Resposta
Após a publicação da coluna, o presidente do sindicato enviou nota pelo WhatsApp do jornalista. O texto segue sem revisão, conforme enviado. Disse ele: "só a título de informação, a semana passada toda eu, junto com a diretoria, andamos toda a usina conversando com os trabalhadores, principalmente os mais novos, e explicando, contando a história dos companheiros Willian, Barroso e Valmir, verdadeiros heróis metalúrgicos, morto pelo exército no fim de uma ditadura cruel e coercitiva; fizemos boletim, colocamos coroa de flores no memorial nove de novembro na praça Juarez Antunes hoje tem uma LIVE sobre o nove de novembro conforme documentos anexos , enfim à luta continua companheiros Willian, Barroso e Valmir presentes".
Sobre a live mencionada: não é do sindicato, mas de uma candidata a vereadora. Fazer o quê? Sinal dos tempos.
Atualizada às 19h09min