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Meio Ambiente

por: Adaucto Lima Neves

A tragédia de Mariana

06/11/2015 20:52

A equação e a memória brasileira dos anos 1990 nos remetem à época da Rio 92 – Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Reconhece a insustentabilidade do modelo de “desenvolvimento” vigente. O desenvolvimento sustentável é visto como o novo modelo a ser buscado.

Naquela época um presidente brasileiro falou que os automóveis no Brasil eram igual a carroças. Haja vista que hoje ele tem alguns carrões. Trocando de conversa: a nossa consciência ecológica continua igual a carro antigo; sem partida, que sempre tem que empurrar e que só pega no tranco.

Um grave acidente ecológico aconteceu num distrito de Mariana, em Minas Gerais, e vê-se que o interesse de poucos agrediram e destruíram o meio ambiente e vários lares e o sustento de uma comunidade inteira foi destruído.

O diretor-presidente da mineradora afirmou que acidentes com rompimento de barragem são raros, mas recentemente outro semelhante aconteceu perto daquela região. Em 2007, outra barragem se rompeu deixando os rejeitos arrebentarem com o meio ambiente. Se podem acontecer catástrofes, é necessário prever e remanejar a comunidade do provável local. Segundo o presidente da empresa, o rejeito de ferro é inofensivo, e têm pouca quantidade de minério de ferro.

Como dizem os mais velhos, a fila anda (ou será a pista anda?); talvez daqui a alguns meses não iremos nos lembrar desse episódio, a não ser os realmente prejudicados, ou as vozes dos que lutam dia a dia e que travam uma batalha contra os que se beneficiam de situações não sustentáveis. Um automóvel que pega no tranco, ainda que ande, um dia irá parar e irá atravancar o trânsito. No nosso caso, estão atravancando a natureza. Houve renovação de equipamento, mas a sobrecarga talvez tenha "furado o pneu".

Quantos animais já morreram nessa degradação regional? Quantos vegetais e peixes deixaram de existir, diante da presença desses rejeitos. Quantos mais morrerão? Pessoas morando abaixo da linha da represa ficam extremamente vulneráveis e dependentes do investimento da empresa e do poder público.

Tive a oportunidade de visitar essa empresa, inclusive, convidado a deixar um currículo vitae, mas, quando observei a quantidade de lama e o local de armazenamento e a cor amarela-escura, senti até arrepios. É um sentimento de indignação e impotência diante do volume gigantesco e acumulado. É estarrecedor ver aquela lama armazenada onde não se identifica nenhuma forma de vida na imensidão do terreno. Deu no que deu.

A "grande" empresa lucra exponencialmente e a degradação é uma progressão geométrica. Há, na região, uma redução constante dos recursos que não são renováveis, apesar de não parecer quando se vê a montanha da mineração ao longe. O modelo dito capitalismo natural que se instalou naquele local explora os recursos e, nessas condições, deixa a marca da externalidade do ganho, que não fecha na equação das perdas/lucros. Busca-se monitorar permanentemente os recursos utilizados, como água e energia, mas não precaveu o desastre. É um modelo tentador, pois dá a impressão de estar em sintonia com a natureza. Porém, na verdade, é recurso para fins econômicos.

Não foram respeitados limites, a carga era muito alta, os riscos negligenciados e a vida clamando por integridade ficou à mercê da tempestade.

Toda ação deve manter condições seguras, energéticas e físico-químicas. Deve sustentar os seres humanos em todos os sentidos, especialmente os animais irracionais e a vida humana, visando a sua continuidade e, ainda, atender as necessidades das próximas gerações. A equação parece que não está completa. Os mais fraco sempre ficam com o lata velha.

Adaucto Lima Neves é professor e ex-secretário de Meio Ambiente de Barra Mansa e escreve às quartas-feiras. Este artigo está sendo publicado excepcionalmente em razão do acidente ocorrido em Minas Gerais.

E-mail: adauctoneves@gmail.com


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