Cidades
Minha Casa, Minha Vida do São Sebastião vira pesadelo
12/04/2018 16:35:53Dom Waldyr Calheiros de Novaes recebeu várias homenagens após sua morte, e, 2013, em Volta Redonda. Entre elas, está a denominação de um condomínio residencial do Minha Casa, Minha Vida, no bairro São Sebastião. Mas, se vivo fosse, o bispo que se notabilizou pela dedicação aos mais pobres já teria espinafrado os responsáveis pela obra. Desde a sua inauguração, em dezembro de 2014 – praticamente um ano após o falecimento do religioso – as 192 famílias convivem com uma série de problemas e reclamam da falta de assistência da Caixa Econômica Federal, prevista em contrato, mas que, segundo eles, nos últimos meses não tem sido prestada. O conjunto habitacional foi erguido pela Haec Congel, mesma empresa que construiu outro ao lado e que está fazenbdo um terceiro na mesma área do bairro.
Um dos mais graves é uma infiltração que assola praticamente todos os apartamentos. No de Maria da Penha Oliveira Telemos, de 41 anos, no primeiro andar do bloco C, o cenário é desalentador. Pisos que já haviam se soltado e foram trocados (isso ocorreu em quase todas as unidades logo após a entrega da obra) estão soltando novamente. A infiltração fez cair parte do forro de gesso do banheiro. Assustada, a moradora, que saiu do Niterói para viver no São Sebastião, chamou a Defesa Civil. Segundo ela, após uma vistoria, os técnicos teriam recomendado que ele buscasse abrigo em outro lugar.
- Não tenho para onde ir – diz a mulher, desempregada.
Cópia do documento deixado com a moradora pelo órgão aponta que há risco de curto-circuito na rede elétrica e de queda do restante do forro. Os técnicos recomendaram sanar as infiltrações (cuja origem ninguém consegue identificar) e revisar as redes elétrica e hidráulica.
- Já liguei para a Caixa várias vezes e eles não veem fazer o reparo – diz a moradora, revelando que é a segunda vez que o problema ocorre. Da vez anterior, a assistência da Caixa ocorreu. “Mas apenas repararam o forro, não buscaram a origem do problema e começou tudo de novo”, queixa-se Maria da Penha, cujo apartamento fica no primeiro andar do bloco F.
Ela mora com a filha, que está grávida. Os banhos são relâmpagos, “menos de dois minutos”, e assim mesmo, antes do anoitecer, para não sobrecarregar a rede elétrica. “Se demorar um pouco mais começa o cheiro de queimado”, conta Maria da Penha.
Diante do que está ocorrendo, ela é obrigada a secar o piso várias vezes por dia, já que a água desce do banheiro e mina no quarto. As infiltrações já lhe custaram a perda de uma cama e o guarda-roupas está indo pelo mesmo caminho. O quarto que ele ocupava está vazio e ela dorme no colchão, no chão, no quarto ao lado, com a filha.
O residencial tem 12 blocos, cada um com16 apartamentos. Antes morando de aluguel no bairro Mariana Torres, Mirtes de Andrade Ferreira, de 62 anos, agora reside com o marido também no primeiro andar do condomínio no São Sebastião, mas no bloco C, onde os sinais de infiltração no banheiro são visíveis. Já há manchas de mofo. “Olha a cozinha e o quarto”, pede a idosa, mostrando o chão de onde o piso já se soltou novamente.
No apartamento da frente, a pensionista Cintia Aparecida de Souza, de 39 anos, que morava na Siderlândia, já passou pelo mesmo problema com a infiltração no banheiro. “A Caixa mandou arrumar quatro meses atrás, mas já começou tudo de novo”, lamenta a mulher, que vive com a mãe.
Revoltada com o que considera descaso da financiadora do projeto, Elaine Souza, do apartamento 102 também do bloco C, está entre os mutuários que, indignados com a falta de assistência, suspendeu o pagamento das prestações, que, no conjunto, variam de R$ 25 a R$ 35. “Desde que viemos morar aqui tudo dá defeito e, de um ano para cá, não temos recebido assistência da Caixa. Tem muita gente que, como eu, está revoltada e parou de pagar as prestações”, diz ela, que teme pela segurança da filha pequena sob o chuveiro, já que o forro também sofre com o vazamento de água sem origem ainda identificada. “Se cair na cabeça de uma criança, pode machucar”.
Ela se queixa que faz contato com a Caixa e a resposta que recebe é que o tempo de assistência já expirou. Entre os moradores, já há sinais de desalento. Um deles, que tem um filho especial, simplesmente abandonou a casa própria e voltou ao aluguel. Segundo uma vizinha, a medida extrema foi tomada depois que o gesso da cozinha despencou.
Esgoto sempre entupido
Se já não bastassem as infiltrações, os moradores convivem com outra dificuldade: os frequentes entupimentos da rede de esgoto. Durante esta reportagem, realizada na tarde da quarta-feira, não havia entupimento, mas em alguns locais o cheiro denunciava que há realmente algo errado com a rede.
- E quando entope, moço, a gente fica cercada pela merda – desabafa Maria da Penha. Segundo ela, vermes entram nas casas pelos ralos do banheiro e da cozinha.
No São Sebastião, os moradores ainda penam com a falta de sinal de celular – já que uma antena para levar o sinal, reivindicada desde a ocupação e várias vezes prometida, nunca chegou. A antena coletiva de TV também não funciona, mas isso é outra história. O certo é que Dom Waldyr jamais aprovaria a forma como os moradores estão sendo tratados.
Nota da redação: A Caixa Econômica Federal foi procurada para se manifestar, confirmou o recebimento do pedido de informações, mas ainda não havia respondido até o momento desta publicação. Após a publicação, por telefone, a assessoria do banco informou que uma vistoria técnica será feita nesta sexta-feira no imóvel da moradora Maria da Penha. A assessoria ficou de encaminhar as respostas por e-mail.